Resenha do livro " O Menino dos Fantoches de Varsóvia " de Eva Weaver - @Novo_Conceito


Sinopse
Mesmo diante de uma vida extremamente difícil, há esperança. E às vezes essa esperança vem na forma de um garotinho, armado com uma trupe de marionetes – um príncipe, uma menina, um bobo da corte, um crocodilo... 
O avô de Mika morreu no gueto de Varsóvia, e o menino herdou não apenas o seu grande casaco, mas também um tesouro cheio de segredos. Em um bolso meio escondido, ele encontra uma cabeça de papel machê, um retalho... o príncipe. E um teatro de marionetes seria uma maneira incrível de
alegrar o primo que acabou de perder o pai, o menininho que está doente, os vizinhos que moram em um quartinho apertado. 

Logo o gueto inteiro só fala do mestre das marionetes – até chegar o dia em que Mika é parado por um oficial alemão e empurrado para uma vida obscura.
Esta é uma história sobre sobrevivência. Uma jornada épica, que atravessa continentes e gerações, de Varsóvia à Sibéria, e duas vidas que se entrelaçam em meio ao caos da guerra. Porque mesmo em tempo de guerra existe esperança... 






Título: O Menino dos Fantoches de Varsóvia
Autora: Eva Weaver
Selo: Novo Conceito
Edição: 1ª
Ano: 2014
Páginas: 400

Skoob


Nova York, 2009, Mika sai com seu neto para um passeio. No caminho passam diante de um pequeno teatro e Mika repara no pôster colorido "O Menino dos Fantoches de Varsóvia - Um Espetáculo de Fantoches". Na fotografia está estendido um velho casaco preto com uma braçadeira com a estrela de Davi costurada na manga direita, e também haviam vários fantoches. Mika se sente mal e quando chega em casa pede ao neto para pegar um pacote que está guardado há muito tempo.

 "Quero lhe contar o que aconteceu no gueto. Quero lhe contar antes de morrer. Quero contar a verdade, para você e para o meu próprio coração, para a sua mãe e talvez para o mundo." (pág 15)

Na primeira parte do livro vamos para Varsóvia, 1938, Mika com 12 anos. Ela é escrita em primeira pessoa e Mika começa nos contando sobre o casaco que Nathan fez para seu avô. Desde que seu pai morrera, seu avô, que era professor de matemática na Universidade de Varsóvia, se tornara seu melhor amigo.

Acompanhamos o início dos bombardeios, a Segunda Guerra chegando a Varsóvia, até que dois anos depois, com 14 anos, Mika, seu avô e sua mãe já estavam morando no gueto. Foi nessa época que o avô de Mika começa a costurar bolsos no seu casaco para guardar coisas que queria esconder, e foram muitos, bolsos dentro de bolsos. Além disso, ele passava horas dentro de uma despensa, onde não permitia que ninguém entrasse. E é com a morte de seu avô que Mika veste o casaco.

"O peso do casaco era incrível. Eu mal conseguia respirar com a carga de objetos de meu avô. (...) O casaco me engolia tal como um ser quente e pesado " (pág 34)

Mika começa a descobrir os segredos de seu avô guardados naqueles bolsos, que ele ía descobrindo aos poucos.

"Durante várias semana eu saí de casa o mínimo possível. O casaco se tornou meu segundo lar, minha caverna, meu companheiro silencioso. (pág 39)

Certo dia ele encontra uma pequena cabeça moldada em papel machê e foi quando se lembrou da despensa. Ao entrar e acender a luz, Mika encontrou muitos fantoches e marionetes, alguns prontos, outros inacabados. 

Diversas famílias foram pedir abrigo no pequeno apartamento, sendo que por último chegaram sua tia e seus primos. Mika que estava vivendo como seu avô, passando a maior parte do tempo dentro da despensa e mantendo seu segredo, resolve trazer sua prima Ellie, menina esperta, para dentro do seu mundo.

Devagar Mika começa a apresentar seus fantoches para as pessoas, começando com uma apresentação na cozinha, até já estar fazendo espetáculos por todos os lugares do gueto. E todos já conheciam O Menino dos Fantoches. A partir daí vamos conhecer muitos personagens, suas histórias, mais das dificuldades naquele tempo de guerra, e dos sentimentos e emoções que Mika ía vivendo.

"É verdade, mas para que serve o riso? Não se pode morder uma risada e comê-la, não é mesmo? Talvez nós devêssemos revidar, conseguir algumas armas e atirar em todos eles, nos policiais corruptos e nos soldados. Estamos definhando, dia após dia, e eles simplesmente ficam olhando, não precisam fazer mais nada." (pág 77)

Um dia Mika se depara com um soldado maltratando uma mulher e para tentar evitar uma situação pior, ele usa um dos seus fantoches. Ele conseguiu, mas pagou caro por isso. Max, o soldado, fez com que Mika a partir daquele dia fizesse apresentações para o inimigo. Mika sofria muito com isso, mas não tinha como evitar e nos conta tudo o que passou por causa disso. Nessa parte da história vamos ver Mika se envolvendo em outras situações e emoções,e a relação com esse soldado.

"Talvez eu simplesmente não tivesse coragem suficiente. Eu não queria morrer como um animal acuado. Ou, talvez, os fantoches tenham resolvido intervir. Eu juro que, uma noite, ouvi o bobo da corte sussurrar de dentro do meu bolso:
- O seu trabalho não terminou, sabia? Ainda não. Você não pode morrer aqui. Precisamos de você para contar a história." (pág 221)

Na segunda parte do livro encontramos o que aconteceu com Max após o término da guerra. Gostei muito disso, de ter a visão do outro lado, que nunca havia lido nada. Max foi preso pelos russos, junto com outros soldados e enviados para a Sibéria. Com ele apenas três coisas, uma colher, uma foto da família e um fantoche que Mika lhe dera.

"Para mim a esperança é algo muito mais perigoso do que o desespero. Ela me devora por dentro como aquelas feridas infeccionadas que nunca saram nesse frio maldito. Preciso parar de ter esperança, de imaginar que vou voltar para casa. (...) Tornei-me um fantasma, uma sombra da pessoa que eu era." (pág 265)

Será que ele consegue?



E na terceira e última parte acompanhamos encontro de passado e presente. Um Príncipe volta para casa.

O Menino dos Fantoches de Varsósia é o primeiro livro de Eva Weaver, e creio que encontramos uma boa escritora. Sua forma de contar a estória é simples e fluída, que dá prazer em ler e não dá vontade de parar. Ela conseguiu me envolver e eu me via nas ruas de Varsóvia, me emocionei com cada personagem e situação. Gosto muito de ler sobre esse tema e Eva nos mostra uma estória humana, de esperança, de relações, de ajuda. Ela é alemã e todas as histórias que ouviu de seus pais a inspirou a escrever sobre a segunda guerra. Embora não seja verdadeira, ela usa muito fatos que aconteceram, lugares onde aconteceram e personagens reais com nomes fictícios. E acredito que poderia ser verdadeira, afinal quantas histórias foram vividas naquela época, quanta esperança e solidariedade.

No final do livro conhecemos personagens do Livro de Heróis de Mika e a de Irena Sendler foi a que mais me comoveu. Ela ajudou a resgatar 2.500 crianças do gueto de Varsóvia, junto com sua organização secreta formada quase que totalmente por mulheres. Ela própria levou cerca de 400 crianças para o lado ariano e as deixava aos cuidados de famílias polonesas. Manteve registrado seus verdadeiros sobrenomes e com quem haviam sido deixadas. Guardou as informações em garrafas de leite e as enterrou em seu jardim. Com isso, crianças que sobreviveram puderam voltar para suas famílias ou ao menos saber seus verdadeiros nomes judaicos. Não deixem de ler tudo.

Vale a pena ser lido, mas esqueça outras estórias que leu, mergulhe nesse, se deixe envolver.


"(...) eu ainda vestia o meu velho sobretudo ocasionalmente, e naquelas primeiras semanas de solidão os fantoches me faziam companhia. Eram os únicos que conheciam com exatidão a extensão de minhas perdas. (...) Nunca consegui voltar a brincar com os fantoches. Apenas os colocava enfileirados, lado a lado, ou os deixava sobre o colo. Eram a minha pequena e triste família." (pág 238)


Luci Cardinelli  Professora, atuou como profissional do mercado de capitais e atualmente é artesã. Além disso é amante da leitura e apaixonada por filmes, principalmente pelos antigos e dramas, só não assiste terror e acompanha diversas séries da TV. Ama arte, viajar e MPB.



5 comentários

  1. Fiquei ainda mais interessada, depois que eu me organizar e ler os que vc me mandou, vou priorizar a compra desse. Beijos e muito obrigada, suas resenhas sempre excelentes! Beijos <3

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    1. obrigada!! Tenho certeza que vc vai gostar muito! beijoss <3

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  2. Adorei a resenha! Vou conhecer esse livro. Adoro histórias de superação pelo bom que ainda resta dentro de nós.

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  3. Luci, seu texto meio resenha, meio crônica literária me emocionou. Tenho a impressão que ler o livro foi mais fácil de escrever sobre ele. Eu não sou fã de livros que exploram a II Guerra, já li tanto sobre esse tema, já me angustiei tanto que hoje passo lindamente, mas sua resenha me tocou e me fez ter vontade de reconsiderar qualquer coisa e me pegar lendo essa história... Quem sabe em dias menos nebulosos como os que estou vivendo atualmente eu me permita esse deleite emotivo.

    Cheros e boas leituras para você!!! :)

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  4. A cada resenha que leio desse livro aumenta minha vontade em lê-lo.

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